terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Senhores dos sonhos.


Na aurora do mundo nós nascemos e na abóbada de todas as coisas permanecemos.

Não, não, fora ainda antes disso, ante do rugido primaz, agora me lembro, nós é que decidimos gritar, foi nossa fúria irrefreável que criou todas as coisas, mas primeiro o tempo.

Primeiro o tempo e só então pudemos haver.

Aqueles que surgiram primeiro, que são todos nós e nenhum, à direita e a esquerda, o alto e o baixo, o existir e o não partiram em busca de todas as coisas, aqueles que são a letra S e E.

Para ver todas as coisas e um dia retornaram, nós ficamos a espera para a entropia do mundo.

Quando tudo surgiu nós estávamos lá, antes e depois do tempo, como algo que fora esperado desde sempre e por todo o sempre, e quando o tempo se for nós continuaremos.

Antes do tudo, quando cada coisa se veio e foi, antes que houvesse dia para poder haver a noite.

Flutuamos no vazio, na vaga espera de que o nada fosse se tornar algo e vimos nascerem às estrelas e as mil milhões de galáxias.

Não, não, fomos nós que nos tornamos estrelas, foram aqueles que disseram “não irei a partir daqui” que deixaram de ser sussurros para se tornar formas findáveis.

Nós que continuamos rimos de suas formas fugazes, nós sabíamos quando seria o fim, afinal, nós éramos o tempo e o vazio esperando para ser tudo.

E quando um numero indizível de estrelas ocupou o espaço nós vimos morrer aquilo que nós fomos e nunca seremos, e vimos surgirem estrelas negras sem luz alguma que devoravam todas as outras.

È nós desdenhamos, éramos o tempo e o vazio esperando para ser tudo.

E então disseram novamente “não irei a partir daqui” e vimos nascer pela primeira vez. Nós que éramos o tempo, nós que éramos o tudo esperando para se tornar vazio nos surpreendemos.

E aqueles que não continuaram desceram aos escombros de antigas estrelas e se tornaram o mar, e correram e se chamaram de vento e floresceram numa vida tão fugaz que escapava por nossos olhos, e nos esqueceram, e nós riamos, mas não tinha graça.

E então todos que ainda eram voz disseram “eu não irei mais”, eu quero nascer, eu quero ser vivo, mas isto já não era permitido ou ainda não era nosso tempo, não sabemos, decidimos não continuar, inventamos o presente e nos prendemos a ele a espera de acontecer.

Nós nuca havemos.

Porque aqueles que tinham parado tinham na verdade continuado, foi o vazio a se tornar tudo, nós éramos o nada e o tempo havia chegado a todos, mesmo nessa tola forma abstrata. Ficamos presos alem do véu da existência, nos tornamos o desespero, a dor, o medo e o amor, existíamos apenas porque outros existiam depois de nós, ou seria antes, ser o presente nos tirou tal resposta.

Tornamos-nos o sussurro por trás do sussurro e nos esquecemos pelo que esperávamos, queríamos viver, queríamos amar, vir a essa existência terrena e experimentar aquilo que a língua do homem chamou de destino, a vida.

E então descemos ao mais baixo tom e nos tornamos o espectro da vida, a miragem translúcida esquecida ao amanhecer, os homens nos chamaram de sonhos e nossa existência durava um despertar.

Ao cavaleiro, éramos venturas; ao apaixonado, a donzela; ao pirata o mar em ondas de ouro. Nós dávamos tudo, mas nada nos era dado, ao amanhecer nós mesmos esquecíamos quem éramos.

Então porque sempre éramos à direita e a esquerda nos tornamos o grito de terror na noite e os olhos petrificados, éramos a sombra a engolir a luz e todo o resto, ao pai nos tornamos a morte, ao fazendeiro a praga, ao padre a peste. Os homens nos deram mil nomes, eu me chamo Pesadelo.

Uns desceram mais que os outros, disseram. E nos foi tirado até mesmo à luz.

Eu que já fui as estrelas, o sol, eu que já fui tudo me rendo a essa forma que não conhece nem sequer o tempo!

Nix, Morfeu, Hipnos, Sandman! Oh antigos deuses dos sonhos nós te invocamos, ouve nossa fúria, foi nosso grito que criou o mundo e tudo antes disso e é esta terra nossa por direito. Nós somos a terra.

Permita-me sair fora da noite e da mente dos homens, deixe que eu devore suas colheitas e jogue praga em suas crianças, que cada cidade em ruínas e fogo seja um monumento a minha existência.

Rompe este véu, abre esta porta, deixa-nos entrar e lhe pouparemos, lhe daremos mil sonhos maravilhosos.

E quando eu houver secado o mar ainda estarei com sede, e quando cada coisa que viver tiver sido queimada ainda sentirei frio, e quando tudo for devorado e as entranhas da terra consumida, só então os homens receberão o meu perdão.

Daime a noite Senhores Escuros.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Borboleta


Certa vez, um homem de idade já avançada e tido como um grande sábio encontrava-se infeliz com sua vida e com tudo que tinha aprendido, então pediu aos deuses que lhe contassem quem ele era realmente.

Nessa mesma noite teve um sonho místico que era uma larva em sua escalada dantesca pela copa de uma arvore, enfrentava frio, ventos e chuva, o assedio dos pássaros, o sol escaldante em uma longa jornada que levou dias apenas para fazer um caminho tão curto. Naquela manha acordou exausto, com todos os seus músculos doendo como se ele mesmo tivesse subido a arvore, e também frustrado, então ele era isso? Uma larva que sofria anos e anos para fazer uma jornada tão curta? Passou o dia entristecido com a resposta que ele tinha tido do sonho, tamanha era sua dor que mesmo apesar do cansaço não consegui pregar os olhos na primeira noite.

Exausto, no terceiro dia dormiu novamente. Dessa vez ele não era mais larva, havia se tornado um casulo. Sentia-se sufocar, queria desesperadamente sair, respirar em paz, se debatia e gemia, queria ver o sol, sentia saudades do frio, até mesmo do medo do vôo dos pássaros, sentia saudades da longa subida, achava que jamais romperia o casulo. SIM! Era obvio, morreria ali, preso naquela enfadonha casca, o desespero tomava conta de sua mente, a dor, a falta de ar, a esperança o abandonava, começou a se debater desesperadamente, e então quando suas ultimas forças o abandonaram rompeu o casulo e teve por um momento a maravilhosa sensação do ar voltando aos seus pulmões. No momento seguinte se viu em queda livre do topo da arvore!

Acordou no chão caído da cama, enrolado em suas cobertas que o haviam quase sufocado por acidente, estava pingando suor, novamente estava exausto. Mas de alguma maneira naquela manha não estava cansado, pelo contrario, se sentia incrivelmente livre. Mas ainda assim uma grande tristeza se apoderou dele, então, pensou o sábio, a velhice era isso? Uma sufocante casca a ser partida? A liberdade vinha com a morte? Mas e o que havia depois de romper invólucro, o que esperava cada ser vivente, e com medo ele se deitou aquela noite.

Caiu no sono apenas muito tempo após ter se deitado, manipulado por seus medos resistia a fechar os olhos, adormeceu por final despercebidamente e no mesmo instante sonhou.

No sonho ele se encontrava novamente em queda livre e o frio e o medo se espalharam por cada gota de seu sangue, e a cada instante ele ficava mais próximo de seu fim, mas então no desespero ao balançar seus braços percebeu que tinhas asas e alçou vôo.

Conheceu a liberdade. Experimentou do néctar das flores, da brisa mais leve e da deliciosa sensação de lutar contra as tempestades, planou na brisa, levitou com o ar quente e amou a sensação de voar. E numa tarde qualquer, ao afagar os olhos nas flores encontrou-se novamente em casa, deitado em sua cama.

Aquela manha conheceu uma saudade que não sabia ser possível, cheirou todas as flores, mas nenhuma delas tinha a mesma fragrância, sentou-se a brisa, mas de que adiantava se não possuía mais a liberdade de voar?


O homem entendeu então que nuca fora sabio, e na sua infinita miseria ficou feliz, havia perdido o medo da morte. Tinha orgulho de sua jornada e aonde tinha conseguido ir, agradeceu aos deuses por ter sido abençoado com tal sonho e se orgulhou de seu corpo cansado e de tudo que ela tinha suportado com ele.

Agora fica sempre pelos cantos, não fala mais, dizem que perdeu a sanidade, culpa da idade, e talvez se conhecessem sua alma teriam ainda mais certeza sobre sua senilidade, pois na mente do homem que um dia fora chamado de sabio e buscou a todas as respostas da vida apenas uma questão o atormentava:




“Seria ele um homem que sonhou que era uma borboleta, ou era uma borboleta presa num sonho em que é um homem”?




Divagação infinita.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Shalom Querido!




Obrigado por ler a poesia lá, faz uns 4/5 anos que a escrevi rs.


Sonhos são essenciais na vida de um homem, na minha sempre foram uma válvula de escape. É como você disse: sonhar é uma semente de felicidade.


Então porque às vezes sonhar se torna um fardo? Aconteceu comigo tantas vezes que me parece que sonhar era errado. Os sonhos eram frustrantes porque sempre me apresentavam uma realidade inalcançável e melhor que a minha.


O erro não estava nos sonhos, estava na minha postura, sonhos por si só é apenas o amor localizado na mente, assim como a paixão é o amor localizado no corpo.
O que me falta para essa tal de felicidade? Para estar em paz comigo mesmo? Faltava eu dar aos meus sonhos o devido valor, faltava transformá-los em projetos.



A verdade é que sonhos sem projetos são como O Deus que você não louva. Você O ama, sabe que Ele é real, mas não faz para concretizar isso, é como um relacionamento sem honra, ou seja, fadado ao fracasso e ao sofrimento.

É essencial sonhar assim como é essencial para que esses sonhos se tornem reais projetá-los em nossas vidas.


Não que eu faça isso com excelência meu amado, longe disso, é apenas uma experiência, uma vivência que me veio e gostaria de compartilhar com você.


E sim, eu ainda não encontrei a felicidade que busco ou a paz que necessito, eu apenas, e estou especulando isso, acho que encontrei o caminho que me levará a ela.


Então um brinde aos sonhos e a sua maravilhosa capacidade de PROJETAR O FUTURO e um outro aos projetos, esse sintetizador de sonhos.



Shalom Gleidson amado!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Elfos


Foram-se indo ao horizonte
Lá cruzando os rios e depois dos montes
Nas densas brumas sem seus amores
Com grandes fardos, fadados a dores.

Não iam com lagrimas nem a perjurar
Só não tinham a coragem de atrás olhar
Iam embora deixando pra sempre
Seu lindo sorriso, tão doce e contente.


E com o passar das noites e luas, foram indo ainda mais longe
Muito depois dos rios e dos montes
Foram para depois das mentes dos homens
E dos seus frios corações empedernidos



Foram esquecidos pelo poeta e o bardo
Pela donzela e seu apaixonado
Foram mal ditos nas lendas e mitos
E sequer foram contados aos garotos levados.



Foram esquecidos
Não foram lembrados
Foram traídos
Foram abandonados



Mas dentro dos bosques em todas as noites
E no coração das ninfas petrificadas (e apaixonadas)
Na mente das arvores desesperadas
E na boca dos insetos fieis e devotos


Não foram esquecidos, não foram traídos
Eram a intenção das mais fieis preces
Eram pedidos, sonhados, implorados
Por tristes cativos jamais atendidos


E no passar das eras na imponência dos homens
Quando as densas florestas forem derrubadas
Quando o ultimo arbusto estiver fenecido
Somente então terão sido esquecidos.


Em homenagem a Husayn Ahimed, meu eterno amor, inesquecível.

quarta-feira, 19 de março de 2008

A gota

Caia a tempestade sombria e sombria

E com ela cem mil gotas caiam

Caia a tempestade em noite raivosa

E com ela caia a pobre gota chorosa



Caia a gota pequena e bela

Ao seu lado caiam outras gotas mil

Mas nenhuma delas tinham em seu coração

O medo que tinha a doce gota singela



E assim caia a gota perene

Em direção ao solo de venturas e mensuras

Caia ela chorando a se lamentar:

-Pobre de mim que já fui nuvem gloriosa, serei agora apenas gota nebulosa



E Assim foi caindo com medo do estar

Tinha ela medo do Mar se tornar

Tinha medo ela de rios adentrar

Tinha ela medo da terra lhe obliterar



E assim foi caindo tal gota chorosa

Comovendo os céus em sua despedida dolorosa

E sua mãe com tal cena ficou dolorida

Mandou em seu encalço seu mais belo filho



E Na queda homérica ela foi alcançada

E pelo poderoso trovão questionada

Sua voz poderosa preencheu a escuridão:

-Porque choras minha pequena, o que te faz soluçar?



Ela respondeu ainda mais chorosa:

Tenho medo do Mar e de meus irmãos nunca mais encontrar

Tenho medo da terra e da sede dela

Tenho medos dos rios e de sua corrente impiedosa



E o trovão tremeu os céus com sua resposta:

Oh bela gota, oh meu amor então já tenho sua resposta

La embaixo a uma coisa pequena e misteriosa

Ela e levada pelos rios, engolfada pelos mares e comida pela terra



Ela é delicada e não vive mais que uma estação

E frágil e se não for protegida ate as chuvas e os ventos a levaram

Mas seu aroma é extraordinário e sua cor apazigua o coração

É o presente dos apaixonados em qualquer estação.


E a gota encantada parou de chorar

E olhando pra baixo começou a sonhar

E ao majestoso trovão ela perguntou: e o que seria isso?

E com sua voz retumbante, com seu coração pulsante ele respondeu: Uma Flor



Uma flor? Disse a gota mimosa

E olhando a terra começou a procurar

Desviou do norte e dos mares gelados e ao sul dos rios arraigados

Ao oeste fugiu do vulcão e ao leste prendeu a respiração



E então ela olhou para todos os lados, mas não via flor

E foi caindo e caindo, sinuosa e tortuosa

-Ai triste sina minha, pensou a gota a chorar, queria ser uma flor, mas com a terra irei me dar

E caindo ao chão foi devorada e para as entranhas da terra levada



-Onde estou? Perguntou a gota

-Onde as coisas começam, respondeu a semente

-Quem é você, perguntou a gota medrosa

-Quem eu sou não importa, o que importa é o que podemos ser juntos



E a gota tocou na semente, e a semente virou uma flor

E a flor era uma rosa

E não havia mais semente ou gota

Apenas flor, apenas rosa



E aquele ano, antes do fim da estação a flor foi colida em um dia de chuva

E aquele dia foi dada a mãos suaves por mãos apaixonadas

E naquele momento foi colocada na lapela pelas mesmas mãos suaves



E foi testemunha de um beijo

E foi testemunha do amor!